terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Orgulho e preconceito






Não, esta não é uma resenha do livro.

Falarei aqui do orgulho que tenho em ser negra e do preconceito velado e completamente enraigado na sociedade em que vivo. Engraçado notar que a descendência mestiça não coíbe certos abusos.

Pois bem. Há que se dizer que nunca sossego com meu cabelo que de tempos em tempos, é completamente modificado. Decidi cortar e desde então estava mantendo-o preso. Esta foto aí de cima é quando ele estava black maravilha. Repare nos cachinhos minúsculos. #saudade

Confesso: coques não fazem o meu estilo. Não sendo eu comissária de bordo, posso inventar e sair deste horrendo penteado. Assim o fiz. No primeiro dia do ano soltei a mega cabeleira (que está bemmmmmm murchinha) e lá fui eu.

Toda hora alguém elogiava, pegava e dizia um "tá massa", "tá legal", bem ao jeito baiano de aprovação. Não foi diferente na segunda, a caminho do trabalho e tampouco por lá, onde alguns curtiram o resultado de minha audácia capilar.

Ao que parece um deles não gostou. Ao final do expediente, passou resmungando algo e riu. A voz anasalada e o fato de que ele estava andando enquanto falava tornou difícil a compreensão da frase e retardou a resposta que veio certeira na ponta da língua. Ao racionalizar um pouco entendi o comentário.

- Tomou um choque foi Gal?

Pensei: sim estou em choque com seu comentário preconceituoso. Não esperava tal "brincadeira" de alguém que se diz esclarecido. Bem se diz que o nível de educação formal não equivale ao nível de educação no sentido de consciência social.

Sim eu sei, foi sem querer. Sempre é não é mesmo? Não cabe a nós nos ofendermos com estas "bobagenzinhas". Será?

Sei que ele não julga as pessoas pela cor. Gosta de mim até e o comentário foi inocente, e sem maldade premeditada o que só reafirma as garras perversas da discriminação. Ações como esta reafirmam o preconceito silencioso, que age tal qual um câncer social.

"Só de brincadeira" você chama de preta suja. Só de brincadeira compara cabelo crespo com palha de aço. E ao negro, que leva questões étnicas em banho maria, preferindo não se envolver ou se posicionar a respeito, com tanta brincadeira em pouco tempo terá vergonha de si, do seu cabelo pixaim, de seu nariz, de sua fala, de suas origens.

Pois me recuso. Usarei o meu cabelo como bem entender, só de sacanagem. E esfregarei Chico César na cara do retardado que ousar coibir meu pixaim. Aparte seu preconceito de de mim.







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