terça-feira, 4 de janeiro de 2011

♫ Alisa ele não, é você quem dita a moda em Paris ♫









O Nego do Cabelo Bom
Max de Castro/ Seu Jorge



Muita gente implica com meu pixaim 
Mas o que me implica é que o cabelo é bom 
E quando isso me irrita vai ter briga sim 
Porque não aceito discriminação

E quando vou a praia alguém sempre diz 
O teu cabelo é duro, não entra água não
Se ele é impermeável isso é problema meu 
Na verdade o que é duro é o seu coração

Alisa ele não 
É o que minha nega sempre diz pra mim

Alisa ele não 
Você é meu nego do cabelo bom 

Alisa ele não 
É você quem dita a moda em Paris

Não sou vaselina 
Não vacile não







Orgulho e preconceito






Não, esta não é uma resenha do livro.

Falarei aqui do orgulho que tenho em ser negra e do preconceito velado e completamente enraigado na sociedade em que vivo. Engraçado notar que a descendência mestiça não coíbe certos abusos.

Pois bem. Há que se dizer que nunca sossego com meu cabelo que de tempos em tempos, é completamente modificado. Decidi cortar e desde então estava mantendo-o preso. Esta foto aí de cima é quando ele estava black maravilha. Repare nos cachinhos minúsculos. #saudade

Confesso: coques não fazem o meu estilo. Não sendo eu comissária de bordo, posso inventar e sair deste horrendo penteado. Assim o fiz. No primeiro dia do ano soltei a mega cabeleira (que está bemmmmmm murchinha) e lá fui eu.

Toda hora alguém elogiava, pegava e dizia um "tá massa", "tá legal", bem ao jeito baiano de aprovação. Não foi diferente na segunda, a caminho do trabalho e tampouco por lá, onde alguns curtiram o resultado de minha audácia capilar.

Ao que parece um deles não gostou. Ao final do expediente, passou resmungando algo e riu. A voz anasalada e o fato de que ele estava andando enquanto falava tornou difícil a compreensão da frase e retardou a resposta que veio certeira na ponta da língua. Ao racionalizar um pouco entendi o comentário.

- Tomou um choque foi Gal?

Pensei: sim estou em choque com seu comentário preconceituoso. Não esperava tal "brincadeira" de alguém que se diz esclarecido. Bem se diz que o nível de educação formal não equivale ao nível de educação no sentido de consciência social.

Sim eu sei, foi sem querer. Sempre é não é mesmo? Não cabe a nós nos ofendermos com estas "bobagenzinhas". Será?

Sei que ele não julga as pessoas pela cor. Gosta de mim até e o comentário foi inocente, e sem maldade premeditada o que só reafirma as garras perversas da discriminação. Ações como esta reafirmam o preconceito silencioso, que age tal qual um câncer social.

"Só de brincadeira" você chama de preta suja. Só de brincadeira compara cabelo crespo com palha de aço. E ao negro, que leva questões étnicas em banho maria, preferindo não se envolver ou se posicionar a respeito, com tanta brincadeira em pouco tempo terá vergonha de si, do seu cabelo pixaim, de seu nariz, de sua fala, de suas origens.

Pois me recuso. Usarei o meu cabelo como bem entender, só de sacanagem. E esfregarei Chico César na cara do retardado que ousar coibir meu pixaim. Aparte seu preconceito de de mim.







segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

"Na lição que o sol me traduz: Viver da própria luz"


Foto de  J Pedro Martins. Confira aqui o belo trabalho dele. 



Luz
Djavan






No burro a canga
Na menina a tanga
O verde do mar é um
Verde num toque quase azul
Do infinito ao zoom...

Marelou...
Candomblé oxum
Zamburar pra tirar egum
O que não se vê
Tá aí
Como tudo o que há

Minha fé riu-se de mim
Pelo quanto triste
Eu falei de dor
Como se no fundo
Da dor
Não vivesse a paixão

Mal-me-quer...
A vida segue seu lamento
Um tanto flor
Um leito de rio
No cio
Um cheiro de amor

É amor
Quando não diz
É fogo por um triz
Um trem entrou
No meu eu
E divagou feliz...

E na dor
Eu passo um giz
Arco-irisando a solidão
Na lição
Que o sol me traduz:
Viver da própria luz







Pra quem não queria dormir até que passei da hora. Acordei 9:40 pra fazer os benditos exames. Os fiz. Uma seleção infinita deles e posso jurar que a moça jeitosa tirou mais de 2l de sangue meu. Desconfio que ela mantém um pacto com uma prole vampiresca e que neste momento meu sangue está alimentando algum vampirinho abandonado pelos pais.

Não tenho medo de agulhas. Nem dói assim. Mas confesso a aflição quando vi o esguicho vermelho escuro. E assim, após um cafezinho murcho no laboratório, lá fui eu rumo ao 28º dia da contagem regressiva.

Peguei um ônibus que não tinha lugar pra sentar e pude perceber a falta de civilidade de algumas pessoas. Como reclamam do país tendo estas atitudes bizarras?

Contar um segredo a este bando de hipócritas: idosos tem preferência em lugares e ponto. Não há o que discutir. Estão velhos e as articulações não são tão firmes como outrora e a queda é quase certa quando submetidos aos solavancos do percurso que os ônibus fazem ao percorrer as ruas esburacadas de Salvador.

Não era o banco preferencial, mas levantei para que uma senhora sentasse. Foi delicioso ver aquele rosto cansado se abrir em um sorriso de gratidão. Pasmem: por uma mera obrigação. A coisa aqui anda tão estranha que os deveres quando cumpridos se tornam dignos de aplausos.

Semelhante ao que minha vó dizia ao se referir a um político sem compromisso com ética: "ele rouba mas faz." Como se as ações executadas não fossem inerentes à sua posição.

Como diria Caê, o Veloso: "alguma coisa está fora da ordem..."

Quando estive em BH, senti falta de ambulantes nos ônibus. Aliás, na cidade inteira. Se aqui sobram trabalhadores informais, em BH só os vi no shopping Oiapoque, ou shopping Oi. Sei que há outro mas não lembro o nome pois não o visitei.

Pois bem, em poucos minutos de trajeto, aparece um homem da Manassés. Logo depois, entra um garoto com idade aproximada de 10 anos(não mais que isso) com uma caixa de Ice Kiss. Todos se surpreenderam com a desenvoltura do guri. Mirrado do jeito que é, deu o seu recado. Passou troco, tratou a todos gentilmente e vendeu toda a sua caixinha de doces.

Por ele e sua simpatia quebrei a resolução de comer menos doces em 2011. Ultra merecido. Comprei 2 e pela segunda vez no dia, recebi um sorriso de agradecimento.

Eles desceu com a caixa vazia e me deixou pensando em um clichê altamente real: conquistas só são possíveis com batalhas, que podem ser árduas.

O ônibus arrastou e pensei que aquele era um menino de garra e força. Bem poderia ele se aquietar perante as dificuldades, mas ao contrário do esperado, foi lá e fez acontecer. Hoje na casa daquele neguinho de sorriso feliz terá pão. Amanhã Deus proverá.

E agora, no final da tarde, saboreando um delicioso café preto sem açucar e quente, reflito que no fim das contas, o que importa de verdade é a tua reação diante dos acontecimentos.

Meu momento...





 Rai.

O relógio marcava 19:40 quando me dei conta que no dia seguinte teria início a intensa batalha que me espera.Bateria de exames. Sangue, fezes, urina. Inclua aí todas as doenças possíveis. HIV, HPV, hepatite etc... A taxa de hormônio indicará a presença ou não de desenvolvimento humano em mim.

É janeiro o prazo né? Falta muito pouco tempo pra que tudo corra bem.

Tudo o que? Em breve digo. Deixa que se encaminhe...

Por incrível que pareça meu dia D foi hoje, e não ontem como eu imaginava. Muito aconteceu.

Todo domingo/segunda assisto Nip/Tuck - Estética, um seriado americano que adoro exibido nas madrugadas pelo SBT. Especificamente hoje meu irmão decidiu não dormir e ver um filme horrendo em outro canal. Como ocupei o computador, a TV é reinado dele. Preciso de um notebook urgente.

Enfim criei coragem e fiz uma exclusão necessária pra minha sanidade. Acredite, não foi por mal que o seu nome não mais figura em minha lista de contatos de messenger. Foi necessidade e cuidado comigo mesma. Ao menos assegurei que aquela vontade irresistível de te falar sobre tudo e nada ficará apenas comigo.

Sim, sei seu endereço. Grande coisa. Vendada poderia esculpir em barro tua face, que está devidamente gravada na mente. E de que me vale tal saber?

Aliás, por bem dizer, odeio quem fala messenger. Acho irritantemente pedante. Falo emiéssieni, como o bom populacho baiano.

Estou morta de fome. Ouvi até meu estômago aos berros. Estas 12 horas de jejum impostas me torturam de um jeito inimaginável, logo eu que fico por mais de 15 horas esquecendo de comer(vide minha gastrite). #injustiça

Dormirei e acordarei. Para um novo dia, um novo tempo, ânimos restaurados.

Acabo de descobrir que vencer tentações é uma questão de força de vontade e planejamento.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Feliz ano novo!


Foto de Jonatas Dornelles entitulada Explosão.




Oração de São Francisco de Assis


"Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor,
Onde houver ofensa , que eu leve o perdão,
Onde houver discórdia, que eu leve a união,
Onde houver dúvida, que eu leve a fé,
Onde houver erro, que eu leve a verdade,
Onde houver desespero, que eu leve a esperança,
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria,
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre, fazei que eu procure mais
consolar que ser consolado;
compreender que ser compreendido,
amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe
é perdoando que se é perdoado
e é morrendo que se nasce para a vida eterna"



Como planejei, passei a virada do ano no chuveiro. Quando dois mil e onze chegou, encontrou-me com o cabelo completamente cheio de xampu¹ Elseve anti caspa(que sempre deixa meu cabelo ótimo). Munida de uma barra de sabão erva doce da Natura e uma bucha vegetal, tomei meu primeiro banho do ano de calcinha branca, como tinha sido planejado.
Agradeci a Deus por tudo de bom e de ruim que aconteceu este ano. E olha... haja coisa a agradecer!

2010 foi generoso comigo, mesmo me fazendo chorar algumas vezes. O saldo é altamente positivo. Cresci!
Meu pedido este ano foi ultra simples: força. Forças para conseguir fazer acontecer as metas que me farão chegar às conquistas que desejo. Pedi também que protegesse e cuidasse dos que amo como vem cuidando de mim.

Gritei aêeeeee quando o ano novo chegou e me senti feliz como nunca. Ao procurar uma canção pra cantar, me veio à mente a oração de São Francisco.

Não, eu não sou católica. No final das contas, apesar de ter nascido e me criado no protestantismo, hoje não sigo religião alguma. Creio em Deus. Pra mim Ele é um só, Maíusculo, Onipotente., Onisciente e Onipresente.

Eu costumava rezar muito e bem. Hoje nem sei mais. Fico ali em um papo informal com Deus e sei que apesar disso Ele me escuta e me ampara.

E foi assim que ali, com a água caindo em meus cabelos, rezei o pai nosso três vezes e lembrei desta oração.

Infelizmente não encontrei a versão que ficou gravada em minha mente, mas vai uma tão linda quanto: