segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

"Na lição que o sol me traduz: Viver da própria luz"


Foto de  J Pedro Martins. Confira aqui o belo trabalho dele. 



Luz
Djavan






No burro a canga
Na menina a tanga
O verde do mar é um
Verde num toque quase azul
Do infinito ao zoom...

Marelou...
Candomblé oxum
Zamburar pra tirar egum
O que não se vê
Tá aí
Como tudo o que há

Minha fé riu-se de mim
Pelo quanto triste
Eu falei de dor
Como se no fundo
Da dor
Não vivesse a paixão

Mal-me-quer...
A vida segue seu lamento
Um tanto flor
Um leito de rio
No cio
Um cheiro de amor

É amor
Quando não diz
É fogo por um triz
Um trem entrou
No meu eu
E divagou feliz...

E na dor
Eu passo um giz
Arco-irisando a solidão
Na lição
Que o sol me traduz:
Viver da própria luz







Pra quem não queria dormir até que passei da hora. Acordei 9:40 pra fazer os benditos exames. Os fiz. Uma seleção infinita deles e posso jurar que a moça jeitosa tirou mais de 2l de sangue meu. Desconfio que ela mantém um pacto com uma prole vampiresca e que neste momento meu sangue está alimentando algum vampirinho abandonado pelos pais.

Não tenho medo de agulhas. Nem dói assim. Mas confesso a aflição quando vi o esguicho vermelho escuro. E assim, após um cafezinho murcho no laboratório, lá fui eu rumo ao 28º dia da contagem regressiva.

Peguei um ônibus que não tinha lugar pra sentar e pude perceber a falta de civilidade de algumas pessoas. Como reclamam do país tendo estas atitudes bizarras?

Contar um segredo a este bando de hipócritas: idosos tem preferência em lugares e ponto. Não há o que discutir. Estão velhos e as articulações não são tão firmes como outrora e a queda é quase certa quando submetidos aos solavancos do percurso que os ônibus fazem ao percorrer as ruas esburacadas de Salvador.

Não era o banco preferencial, mas levantei para que uma senhora sentasse. Foi delicioso ver aquele rosto cansado se abrir em um sorriso de gratidão. Pasmem: por uma mera obrigação. A coisa aqui anda tão estranha que os deveres quando cumpridos se tornam dignos de aplausos.

Semelhante ao que minha vó dizia ao se referir a um político sem compromisso com ética: "ele rouba mas faz." Como se as ações executadas não fossem inerentes à sua posição.

Como diria Caê, o Veloso: "alguma coisa está fora da ordem..."

Quando estive em BH, senti falta de ambulantes nos ônibus. Aliás, na cidade inteira. Se aqui sobram trabalhadores informais, em BH só os vi no shopping Oiapoque, ou shopping Oi. Sei que há outro mas não lembro o nome pois não o visitei.

Pois bem, em poucos minutos de trajeto, aparece um homem da Manassés. Logo depois, entra um garoto com idade aproximada de 10 anos(não mais que isso) com uma caixa de Ice Kiss. Todos se surpreenderam com a desenvoltura do guri. Mirrado do jeito que é, deu o seu recado. Passou troco, tratou a todos gentilmente e vendeu toda a sua caixinha de doces.

Por ele e sua simpatia quebrei a resolução de comer menos doces em 2011. Ultra merecido. Comprei 2 e pela segunda vez no dia, recebi um sorriso de agradecimento.

Eles desceu com a caixa vazia e me deixou pensando em um clichê altamente real: conquistas só são possíveis com batalhas, que podem ser árduas.

O ônibus arrastou e pensei que aquele era um menino de garra e força. Bem poderia ele se aquietar perante as dificuldades, mas ao contrário do esperado, foi lá e fez acontecer. Hoje na casa daquele neguinho de sorriso feliz terá pão. Amanhã Deus proverá.

E agora, no final da tarde, saboreando um delicioso café preto sem açucar e quente, reflito que no fim das contas, o que importa de verdade é a tua reação diante dos acontecimentos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Oi?