quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Privilegiada, eu? Ou de paralelos cheios de sentido.

"Só quem já cruzou desertos saberá chorar em frente ao mar..." (Jorge Vercilo)

Acordei cantarolando esta canção, talvez uma forma de expressar a decantação de uma angústia nascida ontem.

Sou ouvinte e por vezes ouço até demais.  Participei de um evento legal e no almoço, uma colega lembrou que este não era um evento inclusivo, uma vez que não contava com tradução para LIBRAS. 

Meu mundo caiu ao me dar conta que em um evento onde o tema acessibilidade é tão presente, com mesas a respeito, algo assim foi ignorado pela organização. Pior: fiz o mesmo e nem me dei conta da inexistência.

Não sou surda. Isso não me afeta. Mas tracei um paralelo importante: sou negra. Para muitos, fatores e questões que me atingem diretamente, inexistem. Neste momento, vivi a dinâmica por muitas vezes cruel do privilégio.

É confortável ser a norma. Nesse contexto, o de privilegiada, creio que nos cabe usar nossa voz para fazer ecoar outras demandas, algo que é justo,  urgente e mais que necessário.

P.S:. No evento, na parte da tarde já havia intérpretes.

sábado, 8 de setembro de 2018

Carta para a menina que fui



Quando eu tinha 15 anos, fiz muitos planos. Variados. Metas a cumprir antes dos 30.

E tinha ali meus maiores desejos. Óbvio que esqueci onde escrevi isso, mas lembro de algumas coisas. Eu ia perder o medo de andar de bicicletas, ia cruzar um ponte, ia viajar, aprender a nadar, jogar capoeira. Moraria no Canadá, assinaria a Harlequim, montaria uma casa. Tinha de tudo naquela porra daquela lista.

Eu diria praquela menina deixar a vida acontecer. Diria que em algum momento ela ia perceber que fazer planos meticulosos e cobrir todas as possibilidades para minimizar erros era bom, mas não essencial. Diria pra em resumo, parar de ser certinha, enfiar a culpa cristã na goela e aproveitar.

Diria pra largar de frescura quéquiozoutrosvãopensar e se jogar. Pra adotar logo o lema de Orion antes que estivesse velha demais pra ser inconsequente. É isso. Eu diria pra Galuíza ser mais egoísta, mais inconsequente e menos cheia de "ses".

Diria pra ela parar de se diminuir pra não ser a diferentona que ~fala difícil~. Tímida é o caralho, beija logo o coisinho. Não é uma armação sua idiota, pare de ver filme que as feias só se fodem.

Diria que a escola deixaria de ser um tormento e viraria apenas uma lembrança, até boa. Diria pra não ter medo do seu instinto. Fale mesmo Gal! Meta mesmo o dedo na cara daquele professor bostético, chute o balde. Ele é incompetente mesmo.


Tinha muito a dizer quando comecei este texto e desisti. Encontrando aqui nos rascunhos, publico, não sem um pouco de dor. Quem dera a mulher que sou dissesse pra menina que a vida muda em instantes, como um sopro. E que é preciso vivenciá-la com intensidade e fulgor. 


Segue aproveitando menina Galuíza...

[Pesquisadora, eu?] O começo, ou de 1,2,3 e já.

















É sabido que não sou mãe e que amo escrever. Desculpe aí a comparação que pode soar infame...

Mas me sinto como se tivesse parido. Enfim, escrevi, enfim comecei, enfim foi dada a largada. Gritei, chorei, fiz uma força digna de Xena guerreira. Estou lendo artigos em idiomas que não sei nem como dizer olá e fazendo o impossível para consultar referências.

Bem me falaram que este mundo não é pra amadores, mas até aí, a vida também não é e aqui sigo eu, firme e forte.

A fé de que estou no caminho certo me sustenta. Seguirei.